segunda-feira, 30 de março de 2015

ROTEIRO DE ESTUDO PARA O SIMULADO ENEM(SOCIOLOGIA)



Tema:  Movimentos  Sociais  Contemporâneos

I)  Movimento Estudantil no Brasil

  • ·        Luta contra a ditadura militar
  • ·        Fechamento da UNE e UBES
  • ·        Intervenção nas universidades (decreto 477)
     

II)    Movimento dos Sem Terra

  • ·        Na década de 50, as Ligas Camponesas ( “Reforma agrária na lei ou na marra”).  Desarticuladas pela ditadura militar.
  • ·        MST  (criação em 1985, no Paraná).
  • ·        Luta pela reforma agrária.


 III)       Movimento LGBT

  • ·       Reconhecimento da União Homoafetiva (decisão do STF)
  • ·       Luta pela aprovação da PL 122 (criminalização da homofobia)
  • ·       Resistência da bancada religiosa no Congresso Nacional.

 IV)    Entidades representativas da sociedade civil


  • ·       OAB ( Ordem dos Advogados do Brasil) :  vítima de atentado a  bomba em 1981 na sede do Rio de janeiro. Morte da secretária  Lyda  Monteiro. 

HISTÓRIA

TEMA:   A  FORMAÇÃO  DO  IMPÉRIO  NORTE – AMERICANO


I)  EXPANSIONISMO  INTERNO :  FORMAÇÃO TERRITORIAL

A  fase de expansionismo interno prolonga-se desde a Declaração de Independência, de 1776 até o fim do século XIX, quando se completou o povoamento do atual território americano. Foi durante essa que se configuraram as fronteiras dos Estados Unidos. Entre o fim da Guerra de Independência das 13 colônias e a aquisição do sul do Arizona ao México, em 1853, o território original de menos de 1 milhão de km2,espremido entre o Oceano Atlântico e os Montes Apalaches, foi alargado até abranger mais de 8 milhões de Km2, banhados por dois oceanos.
     Em 1783, no final da Guerra de  Independência ,os EUA  conseguiram, através de compra, diplomacia  e  usurpação, vários territórios.
  •    Compra:  Louisiana ( França); Alasca (Rússia); Flórida (Espanha)
  •    Diplomacia:  Oregon  (Grã-Bretanha)
  •   Usurpação: Califórnia;   Nevada; Texas;  Utah; Novo México;Arizona; Colorado e Wyoming ( consequência da Guerra contra o México,1846-1848, Tratado Guadalupe-Hidalgo).



        A JUSTIFICATIVA  PARA  A   ANEXAÇÃO  DO TEXAS : COROLÁRIO POLK 

           No momento em que o presidente James K. Polk chegou ao cargo em 1845, uma ideia chamada Destino Manifesto havia criado raízes entre o povo americano, e o novo ocupante da Casa Branca era um crente firme na ideia de expansão. A crença de que os Estados Unidos tinham basicamente um direito dado por Deus para ocupar e "civilizar" todo o continente. 


O Corolário (afirmação deduzida de uma verdade já demonstrada)  Polk, um subproduto do Destino Manifesto e, sobretudo, da  Doutrina Monroe( “A América para os Americanos”,1823)   defendia o “direito” de secessão dos habitantes de um antigo território colonial e a obrigação moral dos EUA de sustentar a liberdade dos colonos. O Corolário Polk   justificou a anexação do Texas.



          A  MARCHA  PARA  OESTE:   A  CONQUISTA DO PACÍFICO

          A   expansão territorial foi acompanhada por duas imensas ondas de imigração europeia, a primeira entre 1840 e 1860 e a segunda entre 1880 e 1900. Elas trouxeram quase 30 milhões de colonos para as terras americanas, possibilitando um salto populacional impressionante num País que entrara no século XIX com cerca de apenas 7 milhões de habitantes.
          O movimento migratório foi estimulado pelo governo americano que organizou uma vasta distribuição de terras no oeste.  Basta dizer que, em 1862, uma lei conhecida como Homestead  Act  (Ato de Propriedade Rural) promovia a venda, a preço simbólico, de propriedades de 160 acres a oeste do meridiano 100W, exigindo como contrapartida o cultivo da terra por um mínimo de cinco anos. Assim, no momento em que a escravidão era abolida em todo o território, começava a se esboçar um enorme mercado consumidor de manufaturados. 


     GUERRA  DE  SECESSÃO  (1861-1865)  :   NORTE  X  SUL



II)  EXPANSIONISMO  CONTINENTAL  (OU OCEÂNICO ) :  

  
O expansionismo oceânico teve como ponto de partida as anexações do Havaí  e da Ilha de Guam, seguidas pelo domínio colonial sobre as filipinas, ainda como resultado da Guerra Hispano-Americana de 1898. Um ano mais tarde, a anexação da Ilha de Samoa completaria o desenho inicial da rede de bases americanas no Pacífico.       Por essa época, já estava em curso a rivalidade com o Japão pela hegemonia marítima no oriente que culminaria mo entrechoque das duas potências na Segunda Guerra Mundial.
         Na lógica da estratégia de domínio sobre o Atlântico e o Pacífico, o Caribe deveria tornar-se um “lago americano”, por estar na passagem  entre os dois grandes oceanos. O avanço sobre  o Caribe começou com a anexação do arquipélago de porto Rico, que também foi fruto da Guerra Hispano-Americana.
           A declaração de guerra à Espanha teve como pretexto o afundamento do navio Maine, num acidente obscuro com a frota espanhola em Cuba, no momento em que os revolucionários cubanos liderados por José Martí (morto em combate em 1895) se erguiam contra a metrópole colonial. A independência de Cuba foi reconhecida pelos EUA dias antes da declaração de guerra à Espanha. Vitoriosas, as forças americanas ocuparam Cuba até 1902. A retirada das tropas foi condicionada à introdução da Emenda Platt na Constituição, conferindo a Washington o “direito” de intervenção para a defesa dos interesses e propriedades americanas em Cuba.  A ilha caribenha foi,portanto, a primeira vítima da Política do Big Stick (Grande Porrete), pela qual os fuzileiros navais tornaram-se instrumentos vitais na diplomacia caribenha americana. As intervenções militares em São Domingos (atual República Dominicana),na Nicarágua e  no Haiti, conduzidas entre 1905 e 1914, e a aquisição,em 1916, das Ilhas Virgens dinamarquesas cimentaram o poder geopolítico dos EUA na América Central.




        O “lago americano” foi consolidado, por sua vez, com a construção e ocupação do Canal do Panamá. A interligação marítima destinava-se a integrar as esquadras de guerra americanas nos dois oceanos e proporcionar uma rota vantajosa para o comércio entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos.
       O pedido inicial americano para a abertura do canal interoceânico foi recusado pelo Senado colombiano. A recusa deflagrou a operação conduzida por separatistas apoiados por Washington, de secessão do Panamá. Completada a secessão, o novo Estado ístmico concedeu o “controle perpétuo” da Zona do Canal para os Estados Unidos (a devolução só ocorreu em 1997).





III)  EXPANSIONISMO  MUNDIAL  :  SUPERPOTÊNCIA OCIDENTAL


        Após a Primeira Guerra Mundial, os EUA assumem a condição de potência mundial tendo como contrapartida uma Europa em crise. Paralelamente, Washington rompia com a recém-criada Liga das Nações, contribuindo decisivamente para o fracasso da organização. A aversão à Europa, tão patente desde a Doutrina Monroe, expressava-se na votação de uma Lei de Neutralidade que proibia o país de participar de guerras no estrangeiro.
        A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, encerrou o curto mas vigoroso ciclo de prosperidade dos anos 1920, precipitando o mundo capitalista na sua pior depressão.
        Nos Estados Unidos, a política econômica do New Deal, de Franklin D. Roosevelt, inverteu a orientação liberal que até então prevalecera. A intervenção do Estado no jogo da oferta e da procura, a limitação da liberdade de mercado e a ênfase à geração de empregos eram receitas anticrise oriundas do pensamento econômico de John Maynard Keynes.
          A recuperação começou, lentamente, em 1932-33, mas a retomada do crescimento só ganhou fôlego durante a Segunda Grande Guerra.
             Os Estados Unidos assumem a sua condição de superpotência planetária apenas com os últimos lances da Segunda Guerra Mundial. A entrada do país, precipitada pelo ataque japonês a Pearl Harbor , no 7 de dezembro de 1941,representou ainda uma mera defesa da posição de potência marítima conquistada na fase anterior.
                A nova posição americana consolidou-se realmente no momento da rendição da Alemanha e do Japão e da realização das conferências de Yalta e Potsdam, que selaram o encerramento da guerra.





         





segunda-feira, 16 de março de 2015

A colonização das Américas



A colonização das Américas from Mario Romero

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domingo, 8 de março de 2015

Hoje , dia internacional da mulher, um texto sobre as heroínas de Tejucupapo.

EM 1646 AS MULHERES DE TEJUCUPAPO CONQUISTARAM O TRATAMENTO DE HEROÍNAS, POR TEREM COM AS ARMAS, AO LADO DOS MARIDOS, FILHOS E IRMÃOS, REPELIDO  600 HOLANDESES QUE RECUARAM DERROTADOS.

Quando se deu o episódio de Tejucupapo, os holandeses já tinham perdido a quase totalidade do domínio nas terras pernambucanas, estavam cercados e precisavam desesperadamente de alimentos, provisões. Tentaram, então, ocupar Tejucupapo, uma área tradicional de plantio da mandioca. A farinha de mandioca, que desde os tempos de Nassau escasseava, agora era um produto pelo qual valia a pena arriscar-se em combates. A fome assolava a população do Recife e de Maurícia, onde estavam praticamente confinados os holandeses. Vinham os holandeses da ilha de Itamaracá.
Segundo historiadores, escolheram justamente um dia de domingo para a investida. Neste dia, os homens do vilarejo costumavam ir ao Recife a cavalo para comercializar os produtos da pesca – caranguejos e outros moluscos que vendiam nas feiras da capital. O distrito estaria, portanto, menos protegido, acreditavam os holandeses.
Segundo alguns relatos, o major Nunes recebeu a informação de dois mensageiros de que o exército flamengo se aproximava. De conhecimeno da notícia, quatro mulheres incitaram e lideraram a reação. Eram Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina.
O motivo da atitude não teria sido exatamente político ou religioso. As tejucupapenses não estariam defendendo a permanência portuguesa no Brasil. Como também não brigaram contra a expansão holandesa na América. Elas estariam simplesmente defendendo sua vila, suas vidas e seus filhos dos invasores. Principalmente porque não contavam com a presença dos homens da comunidade.
Enquanto alguns poucos homens que ficaram em Tejucupapo foram receber os invasores a bala, as mulheres puseram água para ferver, acrescentando pimenta em tachos e panelas de barro.
Escondidas em trincheiras, atacavam com a mistura, jamais esperada pelos soldados. Os olhos dos inimigos eram os principais alvos, e a surpresa o melhor ataque. Como saldo, mais de 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo, sobretudo flamengos. Depois de horas na batalha, no dia 24 de abril de 1646, as mulheres guerreiras do Tejucopapo saíram vitoriosas, pondo um fim à dominação Holandesa no Brasil.



quarta-feira, 4 de março de 2015

SOCIOLOGIA

TEMA  3 :    AS FORMAS DE RESISTÊNCIA INDÍGENA E AFRICANA NA AMÉRICA  COLONIAL




 I)  CONFLITOS  ENTRE  ÍNDIOS  E  EUROPEUS

-   CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIOS  (1555-1567) 
  
Ocorreu no litoral fluminense e envolveu pelo menos quatro cinco nações indígenas( Tupinambás, Aimorés, Goitacazes,Tupiniquins e Temiminós) e colonizadores portugueses e franceses.
       Teve origem com a resistência dos Tupinambás às tentativas de escravização empreendidas pelos colonos portugueses da  Capitania de São Vicente, então governada por Brás Cubas.
        Os Tupinambás, liderados pelo cacique  Aimberê , conseguiram apoio de outras nações indígenas (Aimorés e Goitacazes) e declararam guerra aos portugueses, revolta  que ficou conhecida como “Confederação dos Tamoios”.
        A expressão  “tamoio”  corresponde à ideia de “antigo”, “ancestral”.
         O fato coincide com a invasão francesa à Baia de Guanabara .   Villegaignon , comandante  francês, oferece  armas aos tamoios com o intuito de combater os portugueses e poder assim fundar na região uma colônia com o nome de França Antártica.
          Os portugueses estabeleceram alianças com outras nações inimigas dos Tupinambás ( Tupiniquins e Temiminós ) e, liderados por Estácio de Sá ( sobrinho do então Governador Geral Mem de Sá), expulsaram os franceses e massacraram os tamoios.

-     MASSACRE    DE   TRACUNHAÉM  ( 1574)

       Ocorreu na Capitania de Itamaracá . Os índios Potiguaras, habitantes do atual litoral da Paraíba, reagiram ao rapto de uma jovem índia por um  colono do Engenho do português Diogo Dias, localizado no Vale do Rio Tracunhaém , próximo ao  município de Goiana (PE).
          Insuflados pelos franceses, seus aliados pela prática do escambo de pau-brasil no litoral de Itamaracá , os potiguaras  massacraram mais de 600 pessoas que viviam no engenho e regiões vizinhas, incluindo proprietários, colonos e escravos.
           Com o objetivo de evitar novos ataques a engenhos, expulsar os franceses e expandir a cana de açúcar  para o norte, a Coroa Portuguesa desmembrou a Capitania de Itamaracá e criou a Capitania Real da Paraíba.
            A resistência dos potiguaras à  ocupação da Paraíba durou uma década e desafiou, pelo menos, cinco expedições portuguesas.  Em 1585, Martim Leitão, graças à aliança com os Tabajaras, rivais dos Potiguaras, conseguiu derrotá-los.  Foi, então, fundada a Cidade de Nossa Senhora das Neves ( logo batizada como Filipeia de Nossa Senhora das Neves) e que hoje chama-se João Pessoa, capital do Estado da Paraíba.

 -         A  “ SANTIDADE  INDÍGENA  “   ( 1580 )    

               Ocorreu na região de Jaguaripe , sul do recôncavo, na Capital da Bahia.  Considera-se  como rebelião armada  e seita religiosa contra o colonialismo português, contra a escravidão e contra a catequese jesuítica e foi, sem dúvida, o principal momento da resistência indígena  do Brasil no século XVI.
                 Foi  liderada por um índio chamado Antônio, nome de batismo dado pelos jesuítas no tempo em que ele  viveu num aldeamento de Ilhéus, onde aprendeu rudimentos da fé católica, antes de fugir dali.
              Dizendo-se a encarnação viva de “Tamandaré”, o primeiro  ancestral dos Tupinambás, Antonio exortava seus seguidores a atacar os colonos, saquear e destruir engenhos,acenando que o triunfo total estava próximo e com ele viria  um novo tempo de prosperidade e abundância. Os índios não precisariam mais trabalhar porque as flechas caçariam sozinhas no mato e os frutos brotariam da terra sem que ninguém os plantasse. As índias velhas voltariam a ser  jovens e os homens se tornariam imortais. Todos os portugueses seriam mortos ou tornar-se-iam escravos dos mesmos índios que então os  escravizavam. O triunfo da Santidade equivalia, assim, ao descobrimento da Terra sem Males, o paraíso Tupi de que falam os etnólogos, cuja busca teria outrora conduzido este grupo para o litoral atlântico da América do Sul.
               Por outro lado, diversos ritos praticados na Santidade eram os que os jesuítas descreviam como heréticos desde meados do século XVI. É o caso dos bailes em que os índios se comunicavam com os mortos, danças  chamadas de " bailes dos espíritos". É o caso da utilização de cabaças mágicas, chamadas por eles de maracás, objetos que tinham o poder de abrigar os parentes mortos e fazê-los falar, sempre adornados com plumas e personificados com narizes, bocas, olhos, cabelos. O ídolo da Santidade era de pedra, mas possuía os mesmos caracteres dos tradicionais maracás, chamando-se Tupanasu, o que quer dizer, Deus Grande. É também o caso do uso de ervas nativas até o limite da embriaguez ou transe místico, rito essencial para a comunicação com os  ancestrais .
               A “ Santidade”  acabaria, contraditoriamente,  assimilando traços do catolicismo e do colonialismo por ela combatidos. O chefe do movimento, ao mesmo tempo em que dizia ser o herói Tamandaré, dizia ser também o verdadeiro Papa, e nomeava bispos e santos entre os principais pregadores. São Paulo, São Luiz, eis alguns maiores do clero indígena da Santidade. Sua mulher, ou a principal delas, índia  , tinha por título Santa Maria Mãe de Deus.
               A Santidade permite perceber um fenômeno crucial do colonialismo ibero-americano: a incerteza e fluidez das fronteiras culturais, a mescla de tempos e espaços das culturas e conflitos.  A ambiguidade dos papéis jogados pelos atores na cena colonial: os índios tecendo sua resistência sem excluir a cultura dos dominantes e, no extremo, assumindo a própria escravidão como integrante do seu paraíso iminente, ainda que escravidão dos brancos; os colonizadores, por sua vez, pondo-se de joelhos, como fez o fidalgo Fernão Cabral, diante de ídolos indígenas que pretendiam destruir.


 TEXTO  COMPLEMENTAR

Santos e rebeldes

Violentamente reprimidas, as “Santidades”, rebeliões indígenas ocorridas na Bahia do século XVI, se apoiavam na crença de um paraíso tupi.


Ronaldo Vainfas  ( Artigo publicado na Revista de História,21/9/2007.)


Bahia, 1585. O capitão Bernaldim da Grã, à frente de pequena tropa, invadiu a fazenda do principal senhor de Jaguaripe, Fernão Cabral, que não lhe opôs resistência. Sabia ele o que Bernaldim pretendia fazer e ainda lhe indicou o lugar que procurava, distante meia légua ou três quilômetros da casa-grande. Ali ficava uma grande maloca, onde cabiam centenas de pessoas, chefiadas por uma índia conhecida por Santa Maria Mãe de Deus e auxiliada por índios, também chamados por nomes de santos – um deles, Santíssimo. Faziam orações cristãs, rezavam por rosários, confessavam suas culpas numa cadeira grande de pau e houve quem visse ali umas tabuinhas com riscos, que pareciam ser os breviários da seita. À porta da maloca, havia uma cruz de madeira fincada, indicando com nitidez a identidade católica do grupo. Catolicismo à moda tupi, é claro, que não excluía ritos e crenças tupis no dia-a-dia do culto. Bailavam à moda indígena da mesma maneira como Jean de Léry, quase 20 anos antes, descrevera o baile tupinambá na Guanabara, abrindo uma fresta indiscreta na maloca principal da aldeia. Dançavam unidos, embora de mãos soltas e fixos no lugar, formando roda e se curvando para a frente. Moviam somente a perna e o pé direito, cada qual com a mão direita na cintura e o braço esquerdo pendente. Fumavam desbragadamente tabaco – petim, na língua nativa – que os portugueses chamaram de erva-santa. Por meio do fumo, os índios se comunicavam com seus mortos, falavam com os ancestrais, recordavam seus heróis, como Tamandaré, que, segundo o mito, se refugiara no topo da palmeira mais alta da terra para escapar de um dilúvio lendário. Os índios de Jaguaripe fumavam e bailavam em torno de um ídolo de pedra, com jeito de figura humana, nariz, olhos, cabelos, e ainda vestido com uns trapos que o senhor do lugar, Fernão Cabral, lhe havia ofertado, para agradar aos índios. Media um côvado de altura – 66 centímetros – e tinha nome pomposo: Tupanasu, deus grande.
Bernaldim da Grã invadiu a fazenda para destruir aquela “abusão”, como diziam, a mando do governador Teles Barreto. Mas, a bem da verdade, fora enviado menos por causa das festas gentílicas do que pelas rebeliões que se alastravam pelo Recôncavo havia pelo menos seis meses, estimuladas pelo que acontecia na fazenda de Jaguaripe. Emissários da seita percorriam engenhos e lavouras, incitando os índios escravizados a fugir. Faziam o mesmo nos aldeamentos da Companhia de Jesus. Chegaram a incendiar um engenho e destruíram a Igreja de Santo Antônio. Escravistas de toda a capitania protestavam junto ao Governador. Os jesuítas, desesperados, exigiam providências. Os moradores, em geral, viviam apavorados. A Bahia vivia atormentada por esta que foi, sem dúvida, a maior rebelião indígena do século XVI.




- CONFEDERAÇÃO  DOS  CARIRIS   (“ GUERRA  DOS  BÁRBAROS” ) 

  Como  movimento  de resistência , algumas tribos indígenas da região Nordeste , formaram a Confederação dos Cariris, em 1683, na tentativa de recuperar os vastos hectares de terra que os fazendeiros portugueses tomaram dos índios com o intuito de expandir o gado sertão adentro.
  Os cariris eram tribos mestiças, divididas da seguinte maneira a partir de suas localizações geográficas:
  • Inhamuns: viviam na região sertaneja de Inhamum;
  • Cariris: viviam no sul do Ceará;
  • Cariús: viviam entre os rios Cariús e Bastões, próximo à Serra do Pereiro;
  • Crateús: viviam nas proximidades da bacia superior do Rio Poti.
    Primeiro, eles ocuparam a província do Rio Grande do Norte, expulsando violentamente fazendeiros portugueses de lotes fundiários que antes eram territórios indígenas. Em seguida, migram para a cidade paraibana de Bom Sucesso de Piancó, onde permanecem por muito tempo em conflito com a população local e, por último, ocupam o Vale do Jaguaribe, no Ceará.
    Com medo de que a revolta se alastrasse, o governador-geral do Brasil Manuel da Ressurreição pediu ajuda aos bandeirantes de São Paulo e São Vicente para tentar  derrotá-los.  Entretanto, a iniciativa só piorou o conflito. Os cariris começaram a ocupar outros territórios cearenses e receberam apoio de outras tribos que, posteriormente, se mostraram mais belicosas que eles. Aderiram à confederação as tribos dos Anacés, Jaguaribaras, Acriús, Canindés, Jenipapos, Tremembés e Baiacus.
    O conflito no Ceará mostrou-se o mais sangrento de todos. Cerca de 200 pessoas morreram na vila do Aquiraz e a população local, amedrontada, seguiu rumo aos canhões da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
     Irritados com o êxito dos indígenas, em 1713 o coronel João de Barros Braga e seu regimento de ordenanças realizaram uma expedição para subir o Vale do Jaguaribe, passando pelo território do Piauí. Ele mandou exterminar todos os povos indígenas que surgissem pela frente, sem distinção de sexo ou idade, pois queria certificar-se de sua vitória. Só depois de muito sangue derramado o governo-geral conseguiu exterminar a Confederação dos Cariris, escrevendo mais uma página sangrenta da história do Brasil colonial.



 -   GUERRAS  GUARANÍTICAS   ( 1760) 

      No final do século XVII, os jesuítas haviam fundado vários núcleos no noroeste do atual Rio Grande do Sul, para catequese indígena, que ficaram conhecidos como Sete Povos das Missões ( São Miguel,São Lourenço, São João, Santo Ângelo, São Luís, São Nicolau e São Borja). Era uma área rica, com grande produção pecuarista e de erva-mate. A imensa quantidade de indígenas sob o controle dos religiosos, assim como o poder, a riqueza e a independência jesuítica logo provocaram a cobiça dos latifundiários, bandeirantes, autoridades coloniais e mesmo outras ordens religiosas da Igreja Católica.
         Em 1750, de acordo com o Tratado de Madri, estabelecido entre as coroas espanhola e portuguesa, aquelas missões deveriam sair dali e ser  transferidas para a margem esquerda do Rio Uruguai. Os jesuítas e os índios guaranis não concordaram com isso, pois teriam que abandonar um trabalho de gerações. Os nativos e os religiosos consideravam aquelas terras suas , não de portugueses ou de espanhóis.
           Decidiram não sair e resistir, principiando assim as guerras guaraníticas. As coroas portuguesa e espanhola enviaram tropas para a região e milhares de índios acabaram mortos, enquanto outros eram vendidos como escravos, sendo a guerra encerrada em torno de 1756. Os jesuítas, acusados de terem insuflado os índios à guerra, acabaram expulsos do Brasil em 1759. O Tratado de Madri também acabou perdendo a validade. Pelo Tratado de Badajós, de 1801, Sete Povos das Missões acabou ficando com Portugal/Brasil.  



Sepé  Tiaraju, líder indígena de Sete Povos das Missões,articulou uma espécie de Confederação Guaranítica, criando inovadoras táticas militares para a época, nas quais priorizava a guerrilha e evitava grandes batalhas. Chegou a idealizar e construir quatro peças de artilharia, confeccionadas com cana brava. Foi assassinado numa emboscada, por soldados espanhóis e portugueses, nos campos de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica, em 7 de fevereiro de 1756.




( Sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo,RS,patrimônio histórico da humanidade.)


TEXTO  COMPLEMENTAR


Túpac Amaru, o último filho do sol.

 


O mundo amanheceu ao contrário naquele dia em Tinta, um pequeno povoado no sul do vice-reino do Peru. Acostumada a ser explorada e maltratada pelas tropas do mandachuva local, o espanhol Antonio Arriaga, a população mal conseguia acreditar que era ele quem dava seus últimos suspiros, pendurado pelo pescoço na ponta de uma corda, em plena praça central do vilarejo. Ao seu lado, comandando a execução, estava José Gabriel Túpac Amaru. Vestido para a guerra, com o tradicional ornamento inca em forma de um sol dourado no peito, convocava aos berros índios, mestiços e negros para lutar contra a dominação espanhola. Naquele 4 de novembro de 1780, com o corpo de Arriaga balançando atrás de si, Túpac Amaru, descendente da linhagem imperial dos incas, declarou que não existiam mais impostos e que os escravos estavam livres. “Foi o início de uma rebelião que se espalharia pelos Andes e chegaria até os altiplanos bolivianos”, diz Julio Vera del Carpio, historiador da Casa da Cultura Peruana, em São Paulo. Quase 300 anos depois de os espanhóis desembarcarem na América, o filho do sol estava de volta.
Os espanhóis desembarcaram na América em 1492 ávidos por encontrar riquezas que financiassem seus navios, suas armas e sua nobreza. Quando chegaram ao Peru, em 1527, e descobriram as minas de prata da região, não perderam tempo. Reuniram um exército sob o comando de Francisco Pizarro e trataram de eliminar todo aquele que pudesse afastá-los de seu objetivo. Por “todo aquele” entenda-se os incas, que habitavam desde as cordilheiras no Peru até os altiplanos bolivianos. Em 1532, os espanhóis iniciaram uma conquista rápida e implacável. Com a vantagem das armas de fogo e do duro aço espanhol, submeteram os guerreiros indígenas e suas lanças de cobre. Pizarro conquistou Cusco, a capital inca, e capturou e executou Atahualpa, seu imperador. Em seguida nomeou um novo ocupante para o trono: Manco Inca Yupanqui. Pouco tempo depois, no entanto, Manco Inca percebeu que estava sendo usado pelos espanhóis e fugiu de Cusco, iniciando uma revolta. A aventura durou pouco: os espanhóis mataram Manco Inca e seus sucessores. O último foco de resistência foi derrotado em 1572, com o enforcamento do derradeiro imperador inca, o primeiro Túpac Amaru (foram vários “Túpacs”). Foi o ponto final na civilização inca na América do Sul, “que ocupou um território maior que o do Império Romano”, diz Antonio Núnez Jiménez, no livro Nuestra América. A partir desse momento, seus mais de 3 milhões de habitantes tinham um novo senhor.
A primeira coisa que os novos donos do pedaço fizeram foi estabelecer a “mita” – o trabalho forçado nas minas de prata e mercúrio. “Os índios eram convocados pelos espanhóis, arrastados a pé através dos vales montanhosos e muitos morriam exauridos no caminho”, diz Carpio. “Quando chegavam, tinham um breve descanso e, um ou dois dias depois, entravam nos estreitos buracos na terra em busca dos metais. Poucos sobreviviam por muito tempo às longas jornadas de trabalho, que chegavam a uma semana inteira dentro das minas, sem direito a alimentos ou descanso.” A Igreja teve papel especial nessa história. Extremamente religiosos, os incas foram levados a crer que o rei da Espanha substituíra seu imperador no lugar reservado ao representante divino na Terra. Servir ao rei era como trabalhar para o próprio Deus-sol e ao morrer nas minas de prata estavam salvando suas almas do inferno.
Segundo Carpio, nas províncias os corregedores (espécie de prefeitos) tinham toda a liberdade para matar quantos índios fossem necessários para que a extração de prata continuasse a todo vapor. No entanto, em 200 anos de dominação, os espanhóis não eliminaram completamente as lideranças indígenas. Pelo contrário, parte do controle sobre a população era feita com o consentimento e apoio desses líderes – chamados de curacas, descendentes da nobreza inca. Convertidos ao catolicismo, muitos, inclusive, recrutavam membros das tribos para o trabalho forçado nas minas.
Descendente do primeiro Túpac, José Gabriel Túpac Amaru era um dos líderes que discordavam dessa prática. Curaca de Pampamarca, Tungasuca e Surimana, morava na província de Tinta, a 100 quilômetros de Cusco. Túpac herdou de sua família 70 pares de mulas, com as quais transportava mercadorias através dos Andes. No meio daquela região montanhosa, ter um par de mulas era como ter um caminhão. Túpac era próspero, respeitado e bem relacionado. Insatisfeito com o que via na região, defendia junto às autoridades espanholas uma reforma no sistema colonial. Aos tribunais de Lima encaminhara um pedido oficial em que pediu a eliminação do cargo do corregedor, substituindo-o por prefeitos eleitos nas províncias e povoados, e o fim da mita. Nada conseguiu. Aos poucos, passou a espalhar a idéia de rebelião. Em uma carta aberta à população, dizia que os corregedores faziam do sangue dos peruanos “sustento para sua vaidade”. Conseguiu a simpatia e apoio de alguns curacas, que se dispuseram a lutar.
Tinta foi apenas o primeiro alvo da revolta. Após matar Arriaga, Túpac e seus homens percorreram povoados e vilas da região, prendendo e enforcando as autoridades espanholas que encontravam. Ficavam com seu dinheiro e armas e distribuíam seus bens entre a população. Túpac nomeou chefes locais e conseguiu que milhares de pessoas aderissem à sua tropa. Aterrorizado com a rapidez com que a revolta se espalhava, o bispo de Cusco, Juan Manuel de Moscoso y Peralta, enviou 1 500 soldados para eliminar o rebelde. Em 18 de novembro, no povoado de Sangarara, entre Cusco e Tinta, Túpac enfrentou o exército do rei com 6 mil homens sob seu comando. Em menos de um dia o inca cercou os soldados do bispo. Depois de intensos combates, o último grupo de espanhóis se refugiou na igreja do povoado, esperando que o indígena poupasse o local sagrado. Túpac não quis saber: invadiu a igreja e matou todos. Em represália, Moscoso y Peralta excomungou Túpac Amaru e seus seguidores. Essa era a maior desonra que alguém poderia sofrer na época. Tanto para católicos quanto para indígenas, a excomunhão significava que a pessoa estava distante de Deus. O efeito da punição logo se fez sentir. “Por conta disso, numerosos adeptos da causa tupamarista abandonaram suas fileiras ou deixaram de nelas ingressar”, afirma Kátia Baggio, historiadora da Universidade Federal de Minas Gerais.
Túpac se preparou para invadir Cusco. A estratégia era tomar Puno, que ficava entre Cusco e Potosí, para depois avançar sobre a capital. No entanto, após os eventos em Sangarara, o vice-rei do Peru, Agustín de Jáuregui, resolveu pedir auxílio à Espanha. Se as tropas do rei Carlos III chegassem ao Peru, a rebelião não teria chance, por isso o inca adiantou seus planos. Cusco era uma verdadeira fortaleza. Cercada de grandes muralhas de pedra, a antiga capital do império inca tinha uma rígida planificação urbana em forma quadriculada, cujo desenho lembrava a forma de um puma. As tropas da cidade partiram em direção aos rebeldes, para conter sua chegada, enquanto mais soldados preparavam a defesa. Muitos curacas católicos, junto com suas tribos, se mostraram fiéis à Igreja e ao rei da Espanha, e ajudaram os europeus a montar uma estratégia para conter os rebeldes. O clima de agitação e expectativa diante da iminente invasão levou a cidade ao caos.
Em 28 de dezembro de 1780, Túpac chegou ao limite norte de Cusco, uma região chamada Cerro Picchu. Seguiam com ele mais de 40 mil homens, embora poucos estivessem armados e preparados para a luta. Seus planos contavam com um ataque vindo do nordeste, por Diego Cristóbal, irmão de Túpac, e com a adesão da população indígena local. Em 2 de janeiro de 1781 os combates começaram. Por dias as tropas do vice-rei, cerca de 12 mil homens, conseguiram manter os invasores afastados da cidade, tempo suficiente para receberem um reforço de 8 mil homens, seis canhões e 3 mil fuzis vindos de Lima. Os rebeldes, ao contrário, viram seus planos falharem. Diego Cristóbal não conseguiu ultrapassar as defesas espanholas do rio Urubamba e recuou. O policiamento ostensivo nas ruas de Cusco reprimiu qualquer tentativa local de sublevação. Em 8 de janeiro, Túpac fez uma tentativa desesperada e atacou a cidade com força total. A violenta batalha durou cerca de sete horas, mas as defesas se mantiveram praticamente intactas e os realistas tiveram poucas baixas.
Túpac desistiu do cerco e se aquartelou em Tinta. Em março, com o reforço de 17 mil soldados espanhóis, as tropas do vice-rei resolveram sufocar de vez a rebelião. Em 5 de abril, os espanhóis infligiram uma gigantesca derrota às tropas tupamaristas. Depois de um dia de combates, ofereceram perdão àqueles que abandonassem Túpac e se unissem a eles. No dia seguinte, cercaram o exército rebelde e conseguiram outra grande vitória, graças a informações entregues por traidores do exército inca. Os rebeldes se dispersaram e fugiram da cidade, mas Túpac e seus colaboradores mais próximos foram presos em um emboscada preparada por seus próprios partidários. Apenas uma pequena parte do exército rebelde conseguiu se refugiar nas montanhas. Na mesma semana, para comemorar sua vitória, os espanhóis enforcaram 70 curacas rebeldes na mesma praça onde o corregedor Arriaga perecera.
Túpac e sua família foram levados a Cusco, onde foram torturados para que dessem informações sobre os demais líderes rebeldes, como Diego Cristóbal, que conseguira fugir. “Diz a tradição que, sem ter como se comunicar com seus companheiros, Túpac escreveu uma carta com seu próprio sangue, em um pedaço de suas vestes, convocando todos para a luta, mas a mensagem acabou interceptada pelos espanhóis”, diz o antropólogo Rodrigo Montoya, da Universidade San Marcos, em Lima. Após 35 dias de torturas, em 18 de maio de 1871 Tupac foi levado para receber sua sentença em praça pública, no centro de Cusco: esquartejamento. Antes que a pena fosse aplicada, no entanto, Túpac assistiu ao enforcamento de seus homens rebeldes. Depois, dois filhos seus, Hipólito e Fernando, junto com Micaela, sua mulher, tiveram suas línguas cortadas, antes de serem executados. Enfim chegou sua vez. “Seus braços e pernas foram atados a quatro cavalos, que foram incitados a correrem cada um para uma direção”, diz Carpio. “Depois do insucesso de várias tentativas, os espanhóis desistiram do esquartejamento e cortaram a cabeça do inca.”
A rebelião no Alto Peru, no entanto, não acabou aí. Prosseguiu em duas frentes. Sob a liderança de Túpac Catari, cujo verdadeiro nome era Julián Apasa, e que adotou o apelido em alusão a Túpac Amaru e Tomás Catari, outro líder revolucionário morto pelos espanhóis na Bolívia, a revolta chegou a La Paz. Catari cercou a cidade em março de 1781, com mais de 10 mil homens, e fez um violento ataque em que mais de 10 mil morreram – sendo 8 mil indígenas. Após 109 dias de sítio as tropas realistas furaram o cerco. Catari voltou a atacar em agosto, mas foi derrotado e preso. Em 31 de novembro de 1781 foi executado.
A segunda onda de resistência se deu na região montanhosa em torno de Cusco, onde Diego Cristóbal continuou comandando o então reduzido exército de Túpac. Em maio de 1781, ele chegou a sitiar Puno, mas não a invadiu. Focos de conflito continuaram até 1782, quando Diego Cristóbal assinou um tratado de paz com os espanhóis. Apesar disso, depois de uma ameaça de levante em 1783, Diego e 120 supostos envolvidos acabaram executados.
Nos anos que se seguiram, os colonizadores exerceram uma forte repressão à cultura incaica e qualquer ornamento da nobreza inca foi proibido. “Falar o nome de Túpac Amaru em público virou um insulto aos espanhóis, um ato de rebeldia. A perseguição, no entanto, só aumentou o mito que se criou em torno dele e fez com que seus lendários feitos influenciassem gerações de revolucionários americanos, de Bolívar a Che Guevara”, diz Montoya. O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), em um verso de 1970, recordou Túpac “Como um sol vencido/ uma luz desaparecida.../ Túpac germina na terra americana”.

( Publicado em “Aventuras na História”, 1/11/2004.)










TEXTO COMPLEMENTAR

Os sete mitos da conquista da América

Como poucas centenas de espanhóis submeteram milhões de índios, alguns tão desenvolvidos quanto as mais avançadas civilizações europeias?

Nem bem o sol iluminou o lago Texcoco, no imenso Vale do México, os dois maiores líderes do Novo Mundo colocaram-se frente a frente. Era 8 de novembro de 1519 e havia anos que espanhóis e nativos se pegavam em violentas batalhas nas terras recém-descobertas da América. De um lado, Hernán Cortez personificava a figura do conquistador europeu como ninguém. Do outro, o todo-poderoso imperador asteca Montezuma II permanecia impassível. Apesar da expectativa de um encontro amigável, a tensão era tão óbvia quanto inevitável. Espanhóis e astecas trocavam olhares, até que Montezuma desceu de sua pequena tenda e foi em direção aos invasores. Cortez repetiu o gesto. Saltou do cavalo e seguiu ao encontro do imperador. A tensão aumentava a cada passo. Olhos nos olhos, eles esboçaram saudações de respeito mútuo, mas não trocaram mais do que poucas palavras, com a ajuda de um intérprete. De qualquer forma, a diplomacia prevaleceu. E, pacificamente, todos tomaram o rumo de Tenochtitlán, a capital do império asteca. Alguns meses depois, os dois lados voltariam a se encontrar. Mas, desta vez, numa sangrenta batalha que culminaria com a morte de Montezuma e faria de Cortez o homem mais poderoso do América espanhola.
Até hoje, muitos historiadores consideram este episódio como o maior símbolo do encontro entre dois continentes. E não por acaso. Pela primeira vez, um imperador nativo acolheu em suas terras o representante de um povo que estava ali justamente para conquistá-las. Além disso, as diferenças culturais entre os dois grupos nunca estiveram tão expostas quanto naquela manhã de novembro. Estas diferenças, além das idiossincrasias do século 16, ajudaram a perpetuar pelos séculos o que o historiador americano Matthew Restall, professor da Universidade da Pensilvânia, chama de “sete mitos da conquista espanhola das Américas” em seu livro Seven Myths of the Spanish Conquest (inédito em português)
Esses mitos podem ser identificados na figura de Cortez, até hoje citado por sua genialidade militar, pela forma como usou e inovou a tecnologia disponível na época, pela maneira astuta como manipulou “índios supersticiosos” e pelo modo heroico com que levou algumas centenas de espanhóis à vitória, contra um império de milhares de guerreiros. Mas a história não foi bem assim. Desde a primeira vez que Cristóvão Colombo pisou nas ilhas do Caribe, os homens enviados para cá se encarregaram de capitalizar o feito em benefício próprio, aumentando uma coisinha aqui, inventando uma ali.

Meia dúzia de aventureiros

O mito dos homens excepcionais e seus feitos extraordinários

Cristóvão Colombo estava em algum lugar do Atlântico, em 1504, quando a rainha da Espanha enviou uma esquadra para prendê-lo e levá-lo acorrentado para a Europa. Desde sua primeira viagem pelo Novo Mundo, seu prestígio já não era o mesmo. Sua insistência na mentira de que havia achado uma nova rota para as Índias, fato que lhe rendeu títulos e status, havia deixado a coroa espanhola irritada depois que Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança e deu aos portugueses a liderança na corrida por um caminho mais curto para o Oriente.
A fama de Colombo estava irreversivelmente abalada, ele caiu em descrédito e tornou-se um pária. Mas como, depois de morto, ele se tornaria um herói? Para Restall, a idéia de que ele foi um visionário, um homem à frente de seu tempo surgiu durante as comemorações do tricentenário da descoberta da América, num país que também acabava de nascer: os Estados Unidos. Colombo foi tomado como símbolo dessa nova terra: aventureiro, destemido, um gênio a frente de seu tempo. “Mas a coisa mais espetacular sobre a visão geográfica de Colombo era a de que estava errada. A percepção de que a Terra era redonda, fato geralmente citado para imputar-lhe a condição de visionário, por exemplo, era comum a qualquer pessoa escolarizada da época”, diz Restall.
Esse é só um exemplo do mito de que a conquista da América só foi possível graças à coragem e à genialidade de meia dúzia de conquistadores e que surgiu desde os primeiros relatos dos colonizadores enviados à Espanha. Para obter a permissão de explorar novas terras, eles precisavam provar que a colonização era rentável e, para tanto, escreviam qualquer lorota: omitiam fatos, inventavam histórias, exaltavam a si mesmos. Hernán Cortez e Francisco Pizarro, responsáveis pelos tombos dos impérios asteca e inca, respectivamente, foram especialmente beneficiados por tais relatos e elevados à categoria de heróis. Biógrafos, cronistas e religiosos que participaram das expedições ajudaram a construir esta imagem, por meio das cartas enviadas à coroa, chamadas de probanzas de mérito (ou “provas de mérito”).
Pelo menos num ponto, porém, os relatos tinham razão: a desvantagem numérica dos espanhóis – fato que os levou a derrotas frequentemente ignoradas nas tais probanzas de mérito. Como, então, os conquistadores conseguiram expandir seus domínios e subjugar milhares de nativos? A resposta não está na genialidade militar de Cortez ou Pizarro. Em nenhum momento eles apresentaram novas táticas de guerra e, na maior parte do tempo o que fizeram foi seguir rotinas adotadas em conflitos anteriores ao descobrimento. Uma das mais importantes foi a aliança com os nativos (que veremos mais adiante). Mesmo assim, eles não abriram mão de procedimentos igualmente eficientes, mas que nada tinham de inventivos: o uso da violência indiscriminada para intimidar os resistentes. Nos casos extremos, pessoas eram decepadas ou queimadas vivas em praça pública, tinham braços e mãos amputados e suas famílias recebiam seus corpos, o que costumava garantir a submissão de outros nativos.

Nem pagos, nem forçados

O mito de que os espanhóis que desembarcaram na América eram todos militares

A esquadra de Colombo mal aportou na praia da ilha de Hispaniola, no Caribe, e um grupo de soldados já estava perfilado na areia. Vestiam armaduras reluzentes, carregavam as mais potentes armas da época e aguardavam apenas a ordem de seu capitão para marchar em direção às terras do Novo Mundo. Disciplinados, estavam prontos para enfrentar o inimigo. Faziam parte de uma grande operação militar. Afinal, eram soldados. Esta cena jamais aconteceu, mas passa a idéia, constantemente repetida em filmes, ilustrações e livros, de que os conquistadores eram militares enviados pelo rei e faziam parte de uma máquina de guerra.
Mas, então, quem eram eles? Nobres aventureiros ou plebeus em busca da terra prometida? A rigor, nem uma coisa, nem outra. Em sua maioria, os espanhóis eram artesãos, comerciantes e empreendedores de pequeno porte, com menos de 30 anos de idade, alguma experiência em viagens desse tipo e sem qualquer treinamento militar. Armavam-se como podiam e entravam na primeira companhia que pudesse lhes render a quantia necessária para investir em outras expedições. Assim, poderiam acumular riquezas até receber as chamadas encomiendas – ou seja, o direito de cobrar taxas e impostos sobre a produção de uma determinada área conquistada e faturar em cima do trabalho de um grupo de nativos.
A maioria dos conquistadores não recebia ajuda financeira da coroa. Em geral, viajava por sua conta e risco em busca de status e dinheiro. Ou, no máximo, tinha um vínculo com eventuais patrocinadores, em nome dos quais as terras recém-descobertas eram exploradas. De qualquer forma, eles não eram pagos, tampouco obrigados a viajar. E muito menos soldados aptos a lutar pelos interesses da Coroa.

Guerreiros invisíveis

O mito de que poucos soldados brancos venceram milhares de guerreiros índios

Quando o conquistador Bernal Díaz de Castillo viu a capital asteca pela primeira vez, não conseguiu descrever a visão que teve do alto do Vale do México. A metrópole pontilhada de pirâmides, irrigada por canais navegáveis, engenhosamente construída para ser a referência de outras grandes cidades do império, poderia ser comparada às maiores capitais européias. Uma pergunta talvez lhe tenha surgido: como poucos de nós poderemos subjugá-la? Seguindo o mesmo raciocínio, como apenas centenas de europeus poderiam vencer os milhões de índios espalhados pelo continente? Nem a “genialidade” de seus líderes, a pólvora ou o aço espanhol dariam conta. Há algumas respostas para essas questões.
A primeira é que os espanhóis sempre foram minoria nos campos de batalha da América, mas jamais lutaram sozinhos. Os nativos nunca formaram uma unidade política, nem no caso de astecas e maias, que fosse imune às rivalidades e intrigas. E os conquistadores se aproveitaram, desde muito cedo, dessa desunião, conseguindo formar verdadeiros exércitos índios, dispostos a eliminar seus inimigos. Na primeira vez que Cortez chegou a Tenochtitlán, mais de 6 mil aliados davam cobertura aos espanhóis, que eram cerca de 200. Na batalha final, alguns meses depois, ele conseguiu reunir mais de 200 mil homens para tomar a capital asteca. “As pessoas tendem a imaginar que os povos americanos eram unidos em torno de uma identidade nativa. Na verdade, acontecia o contrário. Quando os espanhóis chegaram à América, encontraram várias tribos rivais, que não precisavam de mais que um empurrãozinho para entrar em conflito”, afirma Restall.
Além disso, no final do século 16, cerca de 100 mil africanos desembarcaram na América. A princípio, eles trabalhavam como serventes e auxiliares dos espanhóis, mas, sempre que necessário, recebiam armas para lutar contra os inimigos. Como recompensa, ganhavam a liberdade e logo eles também se tornavam conquistadores.

Sob a tutela do rei

O mito de que, em pouco tempo, toda a América estava sob jugo espanhol

Palavras de Cortez: “Deixei a província de Cempoala totalmente segura e pacificada, com 50 mil guerreiros e 50 cidades. Todos estes nativos têm sido e continuam sendo fiéis vassalos de Vossa Majestade. E acredito que eles sempre serão”. A carta de Cortez enviada ao rei da Espanha dá uma boa idéia de como funcionava a burocracia da conquista. Para o monarca, não bastava o conquistador encontrar uma terra e reivindicar o direito de explorá-la. Ele precisava convencê-lo de que aquela região era economicamente viável, de preferência com minas de ouro e prata, e contava com mão-de-obra para tirar dali tais riquezas. Como resultado, os líderes espanhóis não pensavam duas vezes antes de carregar seus pedidos com informações exageradas.
Essa combinação de fatores contribuiu para a criação do mito de que a conquista total dos povos americanos foi alcançada logo nos primeiros anos da presença espanhola. Muitas cidades, no entanto, resistiram à dominação durante décadas. No Peru, alguns estados independentes só foram dominados depois de 1570, após a morte de líderes como Túpac Amaru. Quando os espanhóis fundaram Mérida, em 1542, boa parte da península de Yucatán, na América Central, permaneceu sob a influência dos maias – e muitas políticas elaboradas por eles sobreviveram até 1880. A experiência espanhola na atual Flórida, nos Estados Unidos, foi ainda mais desastrosa. Pelo menos seis expedições foram enviadas para lá entre 1513 e 1560, quando a região finalmente foi controlada pelos europeus. Mas um dos exemplos mais curiosos vem da bacia do Prata, onde os fundadores de Buenos Aires, em 1520, viraram jantar de tribos canibais.
Outro aspecto que mostra que a conquista não foi total era a relativa autonomia que alguns nativos mantiveram em relação aos seus dominadores – condição sancionada pelos próprios oficiais espanhóis, que procuravam não intervir nas regras que vigoravam antes de eles chegarem. E não por acaso. Esta era mesmo a melhor forma de garantir a manutenção das fontes de trabalho e da produção agrícola. Além disso, membros da elite nativa participavam dos conselhos das cidades coloniais, onde eram tomadas as decisões mais importantes. Ou seja, além de continuar influenciando politicamente, eles mantiveram o status que tinham antes da descoberta.

As palavras de La Malinche

O mito de que a falta de comunicação levou ao massacre indígena

Foi na praça central da cidade inca de Cajamarca que Pizarro e Atahualpa se viram pela primeira vez, em 1532, numa espécie de versão peruana do encontro entre Montezuma e Cortez. Ao lado do conquistador, menos de 200 homens armados pareciam não temer os mais de 5 mil nativos leais ao imperador. E, de fato, eles não tinham porque se intimidar: a maioria dos locais não possuía uma arma sequer. O primeiro espanhol a se aproximar de Atahualpa foi um frei dominicano que segurava uma pequena cruz numa das mãos e a Bíblia na outra. Em poucos minutos, a batalha havia começado. Mas, apesar da desvantagem numérica, os invasores conseguiram dizimar um terço dos nativos. Atahualpa foi capturado.
Há várias versões sobre os motivos que causaram a briga e sobre como a batalha de Cajamarca começou. Francisco de Jerez, presente no local, escreveu que o imperador atirou a Bíblia ao chão, porque não a entendia. A blasfêmia teria sido o motivo para Pizarro dar o sinal de ataque. Na versão inca, no entanto, a ofensa partiu dos espanhóis, que teriam se recusado a tomar uma bebida sagrada oferecida por Atahualpa.
É praticamente impossível saber o que aconteceu de fato naquele dia, mas o encontro sangrento entre incas e espanhóis é um bom exemplo de como as supostas falhas na comunicação serviram para justificar as ações dos europeus e, por conseqüência, a própria conquista. Mas estas falhas não eram tão freqüentes assim. O diálogo entre Montezuma e Cortez, por exemplo, apesar de ter gerado diferentes interpretações, mostra que os dois lados podiam se entender muito bem. Isso graças a uma figura central durante todo o processo de colonização: os intérpretes. O papel deles foi tão importante que um dos principais procedimentos de guerra era justamente encontrar e “formar” tradutores. Alguns destes tradutores se deram tão bem que alcançaram status inimagináveis para um nativo. Receberam encomiendas e chegaram a ser citados nas cartas enviadas ao rei. O exemplo mais famoso é o de La Malinche, a amante e intérprete que acompanhou Cortez durante anos e esteve presente no encontro com Montezuma.

O fim dos índios

O mito de que a conquista só trouxe desgraça para os nativos

A derrota de Cortez era inevitável. Havia horas que ele e seus guerreiros lutavam contra a união de três exércitos inimigos na grande praça central de Tlaxcala, uma comunidade nativa aliada aos espanhóis, e a derrocada do conquistador se aproximava a cada golpe. Finalmente ele seria vencido. E foi mesmo. Ainda no chão, Cortez pôde ouvir os aplausos efusivos da platéia. Aquela encenação do dia de Corpus Christi ficou conhecida como o evento teatral mais espetacular e sofisticado do ano de 1539. Numa curiosa inversão de papéis, o conquistador interpretou o Grande Sultão da Babilônia e Tetrarca de Jerusalém. O papel dos reis da Espanha, Hungria e França ficou com os nativos da comunidade.
O Corpus Christi de Tlaxcala não foi o único festival do século 16 no Novo Mundo. A imensa maioria das colônias da Mesoamérica e dos Andes encenou, dançou e até representou as batalhas contra os espanhóis. Muitas dessas manifestações culturais sobrevivem até hoje. Mas o curioso é que o objetivo não era reconstruir a conquista como algo traumático. Ao contrário. Para os nativos, os festivais significavam uma celebração de sua integridade e vitalidade cultural. “Eram eventos que transcendiam aquele momento histórico particular e não estavam associados à lembrança de algo ruim. Até porque o sentimento de derrota não era algo comum a todos os povos nativos”, afirma Restall.
Manifestações desse tipo eram apenas uma das formas pelas quais os nativos mostravam que o impacto da conquista não foi tão traumático quanto sugere boa parte da retórica comum. Muitas comunidades mantiveram seu estilo de vida e outras tantas evoluíram rapidamente com a necessidade de se adaptar às novas tecnologias e demandas trazidas pelos espanhóis. Aprenderam novas formas de contar, construir casas, planejar cidades e, sobretudo, guerrear. Assim, houve nativos que enriqueceram com o comércio de alimentos e com o aluguel de mulas. O povo Nahua, por exemplo, depois de lutar ao lado dos espanhóis por anos, organizaram campanhas militares próprias e expandiram seus domínios para além das terras onde hoje estão Guatemala, Honduras e parte do México.

Macacos e homens

O mito da superioridade e da predestinação dos europeus

“Os espanhóis têm a governar estes bárbaros do Novo Mundo. Eles são em prudência, ingenuidade, virtude e humanidade tão inferiores aos espanhóis quanto as crianças são para os adultos, e as mulheres, para os homens”, escreveu o filósofo Juan Ginés de Sepúlveda, em 1547. O mito da superioridade espanhola é visto em todos os relatos do período colonial. Para Restall, ele vem desde as primeiras expedições e está ligado à justificativa de que os europeus tinham a aprovação divina para conquistar novas terras. Eles acreditavam que eram os escolhidos de Deus, os encarregados de levar o cristianismo a outros povos.
Existem outros fatores, no entanto, que ajudaram a perpetuar este mito. Um deles combina a crença de que os nativos seriam incapazes de evitar a invasão dos europeus porque eles (os nativos) também acreditavam que os espanhóis eram deuses. De fato, os povos americanos enxergavam os conquistadores como seres poderosos, mas em nenhum momento – nem mesmo nos relatos dos cronistas do período colonial – os nativos comparam os espanhóis a seres supremos, ou deidades. Além disso, a diferença brutal entre as armas dos dois grupos também ajudou a construir a idéia da superioridade espanhola.
Mas Deus não foi o principal aliado dos espanhóis. A expansão dos europeus só foi possível graças a três fatores. O primeiro e mais determinante foram as doenças que os estrangeiros trouxeram. Sem oferecer nenhuma resistência para varíola, sarampo e gripe, os nativos morreram tão rápido que em poucas décadas tribos inteiras foram extintas. O impacto das epidemias foi tão devastador que, um século e meio após a chegada de Colombo, a população de nativos havia caído mais de 90%. Os astecas sentiram o poder desses males. “As ruas estavam tão cheias de gente morta e doente que nossos homens caminhavam sobre corpos”, escreveu o padre Bernardino de Sahagún, quando os conquistadores tomaram Tenochtitlán.
O segundo aliado foi a desunião dos nativos. A rivalidade entre diferentes grupos étnicos e intrigas entre vizinhos levou dezenas de milhares de pessoas a lutarem ao lado dos espanhóis. As armas que os conquistadores trouxeram para estas batalhas são o terceiro fator mais importante. Nas primeiras expedições, várias delas fizeram diferença. Cavalos e até cachorros acabaram entrando nos campos de batalha. Mas a mais eficiente foi mesmo a espada, mais longa e resistente que os machados dos nativos. No campo da guerra, Matthew Restall considera ainda um outro fator. Os nativos lutavam em sua própria terra. Precisavam, portanto, proteger a família, defender suas casas, pensar no plantio, calcular a colheita e fazer o possível para não deixar que a guerra prejudicasse e interferisse no seu dia-a-dia. Por isso, eles sempre estiveram mais dispostos a negociar e a protelar os confrontos com os conquistadores. Já os espanhóis não tinham muito a perder. Basicamente, precisavam se preocupar apenas com suas próprias vidas. E com o que teriam de fazer para continuar conquistando novas cidades e acumulando mais riquezas.


( Publicado em  Aventuras na História, 1/2/2005.)