Texto 1: COMÍCIO DA
CENTRAL DO BRASIL (13/3/64)
No dia 13 de março de 1964, na
Central do Brasil, o então Presidente João Goulart ao lado de sua bela esposa Maria Teresa e de importantes lideranças
políticas como Leonel Brizola e Miguel Arraes , anunciava as reformas de
base. Cerca de 150 mil pessoas, um mar
de bandeiras vermelhas e faixas que
reivindicavam , dentre outras coisas, a legalização do Partido Comunista
e a realização de uma reforma agrária delineavam o cenário. A direita logo tratou de responder ao que
considerou uma provocação da “República
Sindicalista” como a própria imprensa golpista tratou de batizar o governo popular
de Jango. A “Marcha da Família com Deus
pela Liberdade, organizada pela TFP
(Tradição,Família e Propriedade),
setores da Igreja, empresários e classe média conservadora de São Paulo
desdobrou-se em várias manifestações contra o governo e que tiveram início no dia 19 de março. Era a
senha para o golpe militar desfechado a meio século e que instalou uma ditadura
de vinte anos, responsável pela tortura
e morte de centenas de brasileiros.
Naquele momento, confirmava-se
a tendência histórica de que
sempre que se sente ameaçado o capitalismo flerta com o fascismo.
Texto 2 :
CONGRESSO CLANDESTINO DA UNE
No meio século
dos “anos de chumbo”, relembro aos
universitários que hoje podem
protestar dentro e fora do Campus, que
houve tempo que o 477 não dava
mole. Falo do Decreto-lei 477, de 26 de fevereiro de 1969, também
chamado de” AI-5 das universidades”. Previa
afastamento de professores, funcionários e alunos considerados “de esquerda”. Na prática, o rito era
sumaríssimo. Os professores
atingidos eram demitidos e ficavam
impossibilitados de trabalhar em
qualquer instituição educacional do país
por cinco anos, ao passo que os estudantes
eram expulsos e ficavam proibidos
de cursarem qualquer universidade por
três anos. Apelidado ironicamente de
“Terceira Lei de Newton depravada” pelo
então Ministro da Educação e Cultura Coronel Jarbas Passarinho, o decreto 477
foi a dura resposta do General Costa e
Silva, à época o ditador plantonista, ao crescente debate político dentro das
universidades e à atuação da UNE
que organizava Congressos
clandestinos (Ibiúna,São Paulo, entrou para a história),apoiava a guerrilha e
colocava a massa estudantil na rua. Em
1979, no esteio da controversa Lei da Anistia, o 477 disse seu tardio adeus.
Aproveito o ensejo e reproduzo abaixo o júbilo e a satisfação com que a porta voz da direita brasileira estampou
a matéria de capa.
TEXTO 3 : A
MORTE DO ESTUDANTE EDSON LUIS
No dia 28 de março de 1968, o
estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto foi assassinado por policiais
militares, durante confronto no restaurante “Calabouço”, centro do Rio de
Janeiro. Sua morte intensificou a reação do movimento estudantil contra a
ditadura militar. O “Calabouço” era um restaurante vinculado ao Instituto
Cooperativo de Ensino onde Edson Luís era regularmente matriculado. De lá os
estudantes pretendiam seguir em passeata até o prédio da Embaixada dos EUA
onde haveria um protesto contra o apoio norte-americano ao golpe militar (
com base na “Aliança para o Progresso”, defendida pelo então Presidente John
Kennedy ) mas a intervenção policial impediu a caminhada. O corpo de Edson
Luís foi levado pelos próprios colegas para ser velado no prédio da
Assembleia Legislativa do Estado. No dia do seu sepultamento, os cinemas da
Cinelândia indicavam em seus cartazes os seguintes filmes: “A Noite dos
Generais, “À Queima- Roupa” e “Coração de Luto” e na missa de sétimo dia, a
Igreja da Candelária ficou pequena para a quantidade de pessoas presentes. Na
saída, ocorreu uma verdadeira batalha campal entre os estudantes e a
cavalaria, com dezenas de jovens presos e feridos. No dia 4 de abril ,a
histórica Passeata dos Cem Mil mostrou toda a indignação da Nação brasileira
diante da repressão. “QUEM CALA MORRE CONTIGO, QUEM GRITA VIVE CONTIGO...” O
verso é da canção “MENINO” que Milton Nascimento fez homenageando Edson Luís.
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Texto 4 : A
TORTURA
A tortura, tanto física quanto
psicológica, foi um método funcional
utilizado pelos agentes da repressão no interrogatório de presos políticos. Sabe-se, agora, que nunca houve “porões da
ditadura”. Das “masmorras do inferno” todos sabiam, de
simples policiais a altos comandantes.
Vladimir Herzog, jornalista e
militante do Partido Comunista, foi preso e submetido à “maricotinha” ,
uma espécie de fio desencapado e
bifurcado que provocava a violentos
choques nos testículos. Herzog morreu
nas dependências do II COMANDO DO
EXÉRCITO DE SÃO PAULO em 1975 e versão de suicídio por enforcamento em sua
própria cela foi uma das maiores farsas que o regime militar arquitetou. Ali também morreria sob tortura o operário Manoel Fiel Filho. O
então Presidente Geisel, tentando
emplacar a abertura política
exonerou o General Ednardo
D’Villa Melo que, à época, era
o Comandante em São Paulo. A ditadura militar criou um Estado
delinquente e marcado pelo terror. “Pra Frente Brasil” é um filme nacional
produzido em 1983 e disponível no YOUTUBE que retrata a questão da tortura em
plena Copa do Mundo de 1970. Vale a pena
conferir.
Texto 5 :
CASO ZUZU ANGEL
A ditadura militar que destruiu a
democracia brasileira e que agora
completa 50 anos de história, produziu
dramas pessoais muito intensos. Um deles foi vivido pela estilista Zuzu Angel.
Seu filho, Stuart Jones, então estudante
de economia e integrante do MR-8, foi
preso em 1971 , torturado até a morte
nas dependências do Centro de Informações da Aeronáutica(CISA) que
funcionava no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro e dado como “desaparecido”
pelas autoridades. Começava aí a Via
Crucis de Zuzu para recuperar o corpo do
filho , envolvendo inclusive a diplomacia dos EUA, país de seu ex-marido e pai de Stuart. O anjo ferido e amordaçado ,
estampado nas suas produções ,tornou-se
o símbolo do filho assassinado. O caso Zuzu Angel teve repercussão
internacional e suscitou protestos em vários países. Foram anos em busca do corpo do filho, sem poder dar-lhe
um sepultamento. Na madrugada do dia 14 de abril de 1976, num acidente
de carro na Estrada da Gávea, à saída do
Túnel Dois Irmãos (Estrada Lagoa-Barra), Rio de Janeiro,hoje batizado com seu
nome, Zuzu Angel morreu. Seu carro, um Karmann Guia supostamente derrapou na saída do túnel e
saiu da pista, chocando-se contra a mureta
e despencando de uma altura de 5 metros. Uma semana antes do acidente,
Zuzu deixara na casa de Chico
Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu: “
Se eu aparecer morta,por acidente ou outro meio,terá sido obra dos
assassinos do meu amado filho.” Depoimentos prestados à Comissão da Verdade
dão conta que seu carro foi, na verdade, fechado por outro e jogado fora da pista,caindo estrada abaixo. Minutos
depois do acidente, a área já estava totalmente interditada e nenhuma
testemunha pode ser ouvida.
Texto 6 : O
SEQUESTRO DO EMBAIXADOR
Uma das
ações mais consistentes
da luta armada contra o regime militar foi protagonizada pelo MR-8 (Movimento
Revolucionário 8 de outubro) em conjunto com a ANL (Ação Libertadora Nacional)
: o sequestro do embaixador
norte-americano Charles Elbrick, fato ocorrido no dia 4 de setembro de
1969. Inicialmente, a ideia era
empreender uma ação ousada e eficaz o suficiente para libertar o principal
líder estudantil , Vladimir Palmeira. Mas, os guerrilheiros tiveram, por acaso, conhecimento de que o
trajeto de Elbrick de sua casa para a
embaixada era sempre o mesmo todos os dias e que sendo tomado como refém seria possível “trocá-lo” por Vladimir. A ação não durou mais do que vinte
minutos e não deixou feridos, salvo uma
coronhada de revólver na testa do
embaixador pois o mesmo teria esboçado alguma
resistência. Eram 14h30 , na Rua Marques, bairro do Humaitá,
Rio de Janeiro, quando um Volks emparelhou
o Cadillac do diplomata e quatro
guerrilheiros saíram armados rendendo
Elbrick com o motorista e seguindo no
Cadillac. Numa rua adjacente, libertaram o motorista e deixaram uma
correspondência onde solicitavam a
libertação de quinze presos políticos.
Em seguida entraram numa
Kombi, seguiram pelo Túnel Rebouças e chegaram até a residência de número 1026
da rua Barão de Petrópolis, no
bairro do Rio Comprido, local onde Elbrick ficou preso por quase uma semana. O hoje deputado federal Fernando Gabeira (
“sem Partido”) foi um dos sequestradores e até hoje tem visto de entrada negado pelos
EUA, sendo considerado terrorista. Inclusive Gabeira descreve com detalhes a ação em seu livro “O
Que É Isso, Companheiro ? “ que foi
adaptado para o cinema e serviu de inspiração para a minissérie “Anos
Rebeldes”,exibida pela TV nos anos 90. O saldo da ação foi totalmente positivo. Elbrick
disse ter sido bem tratado no cativeiro
e ainda presenteado com um LP de
Chico Buarque. Ironicamente, dois
protagonistas desse episódio seguiram
caminhos diferentes. Gabeira votou no
candidato da direita nas últimas eleições
e José Dirceu, um dos 15 presos libertados, está agora novamente preso em função do julgamento político e
discricionário movido pelo STF . Agora,
pergunta onde estava o “Padim Cerra”
naquela ocasião ? Jantando num
típico bistrô parisiense com Fernando Henrique Cardoso numa espécie de
“exílio voluntário”. Nos 50 anos do
golpe, refrescar a memória nacional
funciona como uma espécie de antídoto. “O que é isso companheiro” ? , baseado no
livro homônimo de Fernando Gabeira, retrata esse momento. Vale a pena conferir.
Texto 7 : A
GUERRILHA DO ARAGUAIA
(Cena do filme “Araguaia”. Vale a
pena conferir.)
A Guerrilha do Araguaia foi um
dos momentos mais dramáticos e não
menos amador da luta armada contra o
regime militar implantado em 1964. Numa
região de difícil acesso no extremo norte do Brasil, militantes do PC do B
deram início, em 1968, ao que seria a
guerrilha rural desse País. Ainda hoje
o episódio é pouco conhecido da maioria do povo brasileiro e obscuro em
muitos aspectos, tornando-se quase um
épico. Desestabilizar o Estado
fascista e implantar a Revolução Socialista eram os objetivos dos guerrilheiros. A maioria dos que combateram no Araguaia era
formada por ex-estudantes
universitários e profissionais
liberais, contabilizando cerca de 80 pessoas dispostas a pegar em armas para
derrubar a ditadura. Dentre suas lideranças, destacavam-se João Amazonas, dirigente máximo do PC do B;
Maurício Grabois , Elza Monnerat e
Osvaldo Orlando da Costa (“Osvaldão”),
um gigante negro boxeador e formado em engenharia de minas na então
Thecoslováquia. Em 1972, no governo do
General Médici, os serviços de inteligência do Exército , com base numa fuga, uma desistência e duas
prisões efetuadas em Fortaleza e São Paulo, descobriram a existência da
guerrilha. As operações militares tanto
por terra quanto por uso de helicópteros
chegaram a mobilizar quase sete mil
homens em pouco mais de dois anos. A
correlação de forças foi extremamente
desigual , a adesão da desconfiada
população local ao movimento foi aquém do esperado e o que se viu foi um
verdadeiro massacre contra pouco mais de 100 pessoas. Assim, em 1973, a guerrilha já estava totalmente extinta.Um saldo de 60
guerrilheiros mortos, cerca de 2/3 deles
assassinados após captura e
tortura; corpos queimados para apagar vestígios; dedos das mãos e arcadas
dentárias arrancadas; uso de ácido para
desfigurar os rostos; cadáveres jogados nos rios em sacos plásticos
impermeáveis cheios de pedra com
peso calculado, depois de terem a
barriga aberta para evitar que inchassem
e flutuassem. Tais métodos do que ficou conhecido como “Operação Limpeza” foram
revelados à Comissão da Verdade pelo ex-
Coronel reformado Paulo Malhães , um dos comandantes da repressão à
guerrilha, integrante do CIE (Central de Informações do Exército), envolvido
nos assassinatos e desaparecimentos na Casa da Morte, centro
clandestino de tortura em Petrópolis,no Rio, e no “desaparecimento” do deputado federal Rubens Paiva em
1971. Em 2009, a OEA (Organização dos
Estados Americanos) abriu uma ação
contra o governo brasileiro por detenção
arbitrária, tortura e desaparecimento de
pelo menos 70 pessoas - entre guerrilheiros e moradores da região e
condenou o Estado brasileiro por usar a Lei da Anistia como pretexto
para não julgar os oficiais envolvidos
na repressão. Dois dos protagonistas desse movimento guerrilheiro
tiveram destinos diferentes: o
ex-deputado José Genoíno,um dos sobreviventes,encontra-se hoje com sérios
problemas de saúde mas continua preso
para satisfazer ao arbítrio do STF e “Osvaldão”, capturado em janeiro de 1974, teve seu corpo pendurado
num helicóptero com as vísceras à mostra (a barriga foi rasgada) e mostrado
em sobrevoo pelos povoados da região. Decapitado e enterrado em lugar ignorado, é
considerado “desaparecido” político.
Agora, pergunta onde estava a turma que hoje posa de oposição ao governo
popular de Dilma e fica nos subterrâneos organizando marcha a favor da volta da
ditadura ? Relembrar os fatos do Brasil dos Generais
funciona como uma espécie de soro antiofídico.
Texto 8 : A
IMPRENSA ALTERNATIVA
Houve um tempo em
que a imprensa só desinformava
porque não podia informar diferentemente de hoje que ela tem toda a liberdade
para informar mas insiste em deformar.
Bom... mas avanços estão acontecendo
para acabar o monopólio daquele estúdio gringo que,em 1965, sofreu um
incêndio,perdas e danos e etc.e tal e a
ditadura ,interessada num porta-voz de peso ,deu asas e hoje é o Leviatã das
comunicações. No regime militar, a
grande imprensa , subserviente e
inoperante , só servia de sustentáculo ao
“establishment” . Nessas
entrelinhas, os pequenos jornais
consentidos ou clandestinos ( apelidados pejorativamente de imprensa
nanica) , ricos em caricaturas,tirinhas,
charges, mensagens cifradas, codinomes, signos , entrevistas com temas
polêmicos, agenda cultural enviesada, artigos apócrifos, textos e
códigos ideológicos vingavam-se,
em parte, da censura burra e mantinham acesa a chama da contracultura e, sobretudo, da liberdade de imprensa com ética jornalística como deve ser em
qualquer democracia. Nos 50 anos do
golpe militar e num momento em que a pluralidade de informação encontra-se comprometida em virtude dos
monopólios, a cidadania brasileira lembra um ícone da imprensa que resistiu por
compromisso e coragem aos “anos de chumbo”
Texto 9 :
O ATENTADO AO
RIOCENTRO
O
General Figueiredo deu
continuidade à “distensão lenta, gradual e segura” iniciada pelo seu
antecessor,o Presidente Geisel. No entanto, a abertura política encontrava
ainda grande resistência no interior da caserna. A chamada “ linha-dura” do regime militar não
via com bons olhos a devolução do poder
político aos civis e silenciosamente arquitetava
ações que sabotassem a abertura. Uma dessas ações entrou para a história como
Atentado do Riocentro e ocorreu no dia
30 de abril de 1981, por volta das 21 horas
nas adjacências do Ginásio
Riocentro, na capital fluminense por ocasião de um show musical em homenagem ao dia do
trabalhador e organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores). Bombas de alto teor explosivo seriam plantadas no local do show pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário e pelo capitão Wilson Dias Machado. No entanto, uma das bombas explodiu dentro do carro – um Puma cinza metálico
placa OT-0297 – onde estavam os dois militares , no estacionamento do
Riocentro. O artefato , que seria instalado no prédio, explodiu
antes da hora , matando o sargento e ferindo gravemente o capitão. O governo militar logo tentou imputar o
atentado à “esquerda radical”.
Investigações posteriores indiciaram
quatro oficiais, incluindo o então General Newton Cruz, um ex-chefe
da Agência Central do SNI (Serviço
Nacional de Informações). Em 4 de maio
de 1999, depois de um nebuloso
inquérito, o caso Riocentro foi
arquivado pelo ministro civil do STM ( Superior Tribunal Militar),
Carlos Alberto Marques Soares. Segundo
seu parecer ,o poder de punição do
Estado teria cessado, ou seja,mesmo que
surgissem novas provas, de nada
adiantaria já que jurisprudência do
STM enquadrou o caso na discutível Lei
da Anistia . O frustrado atentado do Riocentro permite duas conclusões: a
primeira é que o fato demonstrou, à época, que o meio militar encontrava-se
dividido em relação aos rumos políticos do País e o inconsequente comportamento da linha-dura
mostrava claramente a decadência do regime; a outra é a percepção de que a
direita é especialista em infiltrar bandidos em manifestações pacíficas,
plantar falsas provas para incriminar cidadãos que lutam por direitos e
assassinar a liberdade mesmo que o preço
seja matar pessoas inocentes.
Texto 10 : O
ATENTADO À OAB (RJ)
No dia 27 de agosto de 1980, uma
carta bomba destinada ao então
presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) seccional Rio de Janeiro,
Eduardo Seabra Fagundes explodiu às 14
:00 horas nas mãos da secretária da
instituição Lyda Monteiro,
matando-a. Sua morte decorreu, portanto,
de um atentado terrorista. No mesmo dia,
mais duas cartas bombas foram
entregues no Rio de Janeiro : uma no gabinete do vereador Antonio Carlos Carvalho(PMDB) e
outra na sede do jornal Tribuna da Imprensa
e que foram desativadas a tempo.
À época inquéritos foram abertos mas nada foi apurado e os episódios continuam
impunes,mais de três décadas depois. A Comissão da Verdade investiga a conexão
provável entre o atentado da OAB e o atentado do Riocentro, ocorrido um ano
depois. Fica claro, portanto, que além
das atrocidades cometidas, o Estado terrorista implantado em 1964 anulou a
Justiça, perseguiu entidades da sociedade civil organizada e cobriu com o manto da impunidade
assassinatos.
Texto 11 : DA
DITADURA À DEMOCRACIA
50 anos atrás, numa terça-feira
que duraria 20 longos anos, João
Goulart recebeu a notícia de que o
Congresso Nacional declarara a vacância do cargo de Presidente da República e
que seria preso a qualquer momento.
Jango seguiu, então, de Brasília para Porto Alegre e de lá para o
exílio. Único brasileiro a não mais voltar ao Brasil depois do golpe, João
Goulart foi também o último Presidente (no caso, vice) eleito pelo voto livre,
direto e secreto dos brasileiros. Depois
dele, cinco generais governaram com mão de ferro o Brasil, centenas de cidadãos
brasileiros foram presos, torturados ou “desapareceram”, a dívida externa do
País aumentou trinta e seis vezes seu
valor nominal, o Congresso foi fechado pelo menos três vezes, dezenas de
políticos legitimamente eleitos foram cassados
e a imprensa empastelada. A ditadura militar só beneficiou o capital e os seus agentes internos e
externos, acobertando a corrupção e calando toda oposição. A transição para a democracia foi um longo caminho iniciado em 1985 com a
eleição de Tancredo Neves e definitivamente concluído com a promulgação da atual Constituição em
1988. A partir daí, tivemos a volta das
eleições diretas para todos os cargos eletivos, o impeachment de um Presidente, a eleição de um
operário e de uma ex-guerrilheira , presa
e torturada pelos agentes da
repressão como Presidentes da República, situações que SÓ UMA
VERDADEIRA DEMOCRACIA É CAPAZ DE
PRODUZIR. Nos 50 anos do golpe militar, fica a lição de que o verdadeiro Estado Democrático de Direito só
pode ser consolidado com respeito à soberania popular, expressa através das urnas.
Texto 12 : A MPB
E A DITADURA
MILITAR
Na década de 60, a
censura tentou calar quem tinha algo a falar. Mas alguns músicos acharam uma
brecha e deixaram para a posteridade seu pesar. Um dos mais ilustres artistas
militantes foi Chico Buarque. Junto com outro grande músico, Milton Nascimento ,
compuseram uma música que reflete bem a situação da época. “Cálice” traz
referências ao Santo Cálice de Cristo e a uma passagem bíblica (Pai, afasta de
mim esse cálice, de vinho tinto de sangue), mas é uma metáfora com o verbo
“calar”. Foi a forma que os músicos acharam de dizer ao mundo que a liberdade
de expressão estava cassada no Brasil.
Outro grande expoente do período foi o músico Geraldo Vandré. Geraldo compôs “Pra não dizer que não falei das flores”, um hino contra a ditadura. Nessa canção, Geraldo enfatizava as injustiças (pelos campos há fome em grandes plantações), destacava a presença do exército nas ruas (Há soldados armados, amados ou não) e convocava as pessoas para se unirem na luta contra a ditadura (Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer). Geraldo foi preso, torturado e exilado, mas “Caminhando” (como ficou popularmente conhecida) é um clássico da música popular brasileira e, com certeza, deve incomodar até hoje. A “flor” da canção é uma referência ao movimento “Flower Power” que surgiu nos Estados Unidos. Pregava a não violência contra os povos e foi teorizado depois da Guerra do Vietnã em 1959.
Em 1979, João Bosco e Aldir Blanc compuseram “O bêbado e a equilibrista”, que fala sobre os exilados. É um retrato do Brasil no final do período ditatorial, com mães chorando (Choram Marias e Clarisses) pela falta de seus filhos, os “Carlitos” tentando sobreviver (alusão a um personagem de Charles Chaplin. Representa a população que, mesmo oprimida, ainda consegue manter o bom humor) e a equilibrista (nossa esperança, se equilibrando e sobrevivendo).
Várias outras músicas também confrontaram o regime militar. “Panis et Circenses” (de Caetano e Gil), “Apesar de você” (Chico Buarque) e “Cartomante” (de Ivan Lins e Victor Martins). Vale a pena conferir.
Outro grande expoente do período foi o músico Geraldo Vandré. Geraldo compôs “Pra não dizer que não falei das flores”, um hino contra a ditadura. Nessa canção, Geraldo enfatizava as injustiças (pelos campos há fome em grandes plantações), destacava a presença do exército nas ruas (Há soldados armados, amados ou não) e convocava as pessoas para se unirem na luta contra a ditadura (Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer). Geraldo foi preso, torturado e exilado, mas “Caminhando” (como ficou popularmente conhecida) é um clássico da música popular brasileira e, com certeza, deve incomodar até hoje. A “flor” da canção é uma referência ao movimento “Flower Power” que surgiu nos Estados Unidos. Pregava a não violência contra os povos e foi teorizado depois da Guerra do Vietnã em 1959.
Em 1979, João Bosco e Aldir Blanc compuseram “O bêbado e a equilibrista”, que fala sobre os exilados. É um retrato do Brasil no final do período ditatorial, com mães chorando (Choram Marias e Clarisses) pela falta de seus filhos, os “Carlitos” tentando sobreviver (alusão a um personagem de Charles Chaplin. Representa a população que, mesmo oprimida, ainda consegue manter o bom humor) e a equilibrista (nossa esperança, se equilibrando e sobrevivendo).
Várias outras músicas também confrontaram o regime militar. “Panis et Circenses” (de Caetano e Gil), “Apesar de você” (Chico Buarque) e “Cartomante” (de Ivan Lins e Victor Martins). Vale a pena conferir.
Texto 13 : O
AI- 5
Em 1968, o deputado emedebista Márcio Moreira Alves subiu à tribuna do Congresso
e conclamou o povo brasileiro a boicotar o desfile “cívico-militar” em protesto
ao regime e curiosamente, inspirando-se
num drama grego chamado Lisístrata, recomendou que as moças evitassem dançar
com militares. A “terrível ofensa” levou Costa e Silva a solicitar do Congresso
uma licença para enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional. O Congresso, mesmo
fragilizado ,não quis abrir precedentes alegando em vão o cumprimento da
legalidade que embasa a vida dos três poderes da República. No dia 13 de dezembro
o ditador baixou a mais dacroniana das leis brasileiras. O Congresso foi posto
em recesso, centenas de cassações ,suspensão das liberdades individuais e
coletivas e ao suprimir o habeas corpus, deu legitimidade a
sequestros,torturas,ocultação de cadáveres. O AI-5 quase extinguiu o Supremo
Tribunal Federal. Foi revogado dez anos depois na abertura política iniciada
com o General Ernesto Geisel
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